Arquivo da tag: dramaturgia

De Borboletas, Sonhos, Amores e Abandonos…

Sexta e sábado, juazeiro poderá ver Peça A Mecânica das Borboletas, com um time de ótimos atores !

É por demais interessante o espetáculo A Mecânica das Borboletas, que será apresentado amanhã e sábado no Teatro do SESC de Juazeiro do Norte, no cariri cearense. 

Com dramaturgia de Walter Daguerre e direção de Paulo Moraes, os atores Eriberto Leão, Otto Jr., Betina Vianny e Ana Kutner conduzem a história no palco. O tema é bem conhecido, forte, instigante: a história de uma família marcada pelo abandono e de pessoas que estacionaram seus sonhos por fraqueza, medo, falta de determinação e/ou acomodação.

Numa pequena cidade do sul do Brasil, que poderia ser também qualquer cidade
de qualquer país, os irmãos Rômulo (Eriberto) e Remo (Otto), separam-se aos 15
anos, quando um deles desaparece de casa – levando todas as economias da
família – para “fazer o mundo”. Ao voltar, 20 anos depois, Rômulo encontra um
cenário extremamente modificado: é outra a atmosfera sentimental, são outras as condições familiares. Para criar a ambiência cênica do espetáculo, Paulo Moraes e Carla Berri assinam um cenário poeticamente funcional, enriquecido pela bela iluminação do craque Maneco Quinderé, enquanto Rita Murtinho responde pelo figurino e Rico Vianna pela caprichada trilha.

Os irmãos, de personalidades distintas, tiveram caminhos diversos porque
diversos foram os caminhos trilhados. Depois de duas décadas distantes, o
inesperado retorno de Rômulo reaviva antigas rivalidades, e faz ascender mágoas e conflitos ao explicitar o contraste das experiências vividas, evidenciador de perdas e ganhos. Perderam e ganharam todos. o quanto cabe a cada um nessa equação, depende do olhar e da sensibilidade de cada um.

Como diz o aclamado crítico Lionel Fischer em sua análise do espetáculo: “Um belo texto de Walter Daguerre está inserido no programa distribuído ao público e nele o autor explicita as razões que o levaram a escrever A mecânica das borboletas. Em resumo, expõe uma contradição: se por um lado deseja uma vida pacífica, isenta de tecnologias e dos turbilhões inerentes aos grandes centros urbanos, por outro lado também almeja uma existência eletrizante e sempre renovada, o que implicaria em sair pelo mundo e conhecer o maior número possível de países”.

Liza, a filha (vivida por Ana Kutner, filha da Musa Dina Sfat), e Rosália, a mãe
(papel de Betina Vianny), são as outras personagens. Juntos, esses 4 dão conta de vivenciar no palco um texto de inegáveis qualidades, focando temas de amplidão universal e atemporal.

Betina

Cabe a Betina Vianny (filha do saudoso jornalista, crítico e cineasta Alex Vianny) a primeira entrada no palco. E os primeiros cinco minutos de um espetáculo são fundamentais para o desenrolar satisfatório ou não de sua dramaturgia. E aqui A Mecânica das Borboletas acerta duas vezes: a entrada de Betina tem força e beleza, calcada num dos momentos mais belos e delicados do espetáculo, ocasião em que Daguerre inspira-se claramente em Shakespeare e reafirma a importância de se “cuidar do jardim para que as borboletas possam aparecer”. E os autores – escritor e diretor – parecem ter encontrado a atriz certa para dizer as melhores palavras: Betina aparece lindamente serena, terna e eloquente no palco, e conquista o espectador de imediato. É ela quem abre o caminho à adesão da platéia ao espetáculo, e a atriz o faz com riqueza de detalhes. Nota DEZ !

Na sequência, temos a sólida construção do personagem Otto pelo ator Otto Júnior – grata surpresa ! -, a presença bonita e enigmática de Ana Kutner, e a explosão de sentimentos que nos traz o ótimo Eriberto Leão, ator em merecida ascensão graças à notória dedicação ao ofício, ao carisma e ao talento sensível e poderoso que faz dele um dos ótimos exemplos de sua geração.

E assim, diante de um espetáculo recheado de qualidades, com direção
competente e em completa sintonia com o vigor da dramaturgia encenada, além do naipe de atores da melhor qualidade, só temos a indicar a você, leitor, a ida ao
Teatro para ver A Mecânica das Borboletas. Agora o espetáculo chega a Juazeiro, mas daqui a pouco poderá estar chegando à sua cidade, e terá o mesmo padrão. Portanto, recomendamos: vá ao Teatro !

  

Ao dramaturgo Walter Daguerre, nossa estima e votos de que continue se
dedicando à Dramaturgia, arte por demais difícil e fascinante, na qual se insere
com saudável conhecimento de causa.

A ele, e a toda equipe de A Mecânica das Borboletas, o blog Aurora de Cinema envia um super abraço com os melhores brados de Parabéns ! E que os Aplausos possam ecoar e reverberar sempre em vossas carreiras.

Em Juazeiro, o espetáculo será apresentado em duas noites: sexta e sábado,
sempre às 20 horas, no Teatro Sesc Patativa do Assaré, localizado na Rua da Matriz, no centro da cidade.

A peça tem apoio logístico da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Juazeiro do
Norte. A entrada custa R$ 50,00 e meia R$ 25,00. Censura 12 anos.

Marco Pigossi, Eriberto Leão e Malvino Salvador após estreia de peça no Rio (Foto: Henrique Olivveira/ Photo Rio News)

Eriberto Leão recebe cumprimentos dos amigos Marco Pigossi e Malvino Salvador na estreia carioca de ‘A Mecânica das Borboletas’…

Vestido de Noiva, ainda e sempre… Nelson Rodrigues e o Teatro

Peça mais conhecida de Nelson Rodrigues ganha análise do escritor SÉRGIO FONTA

Leandra Leal brilhou na versão Vestido de Noiva de Gabriel Villela, em 2009

A conferência de SÉRGIO FONTA está marcada para o próximo dia 21 de agosto, terça-feira, a partir das 16h, com entrada franca.

Julinha Lemmertz ao lado do escritor Sérgio Fonta, autor de ótima biografia do ator Rubens Corrêa…

A Academia Luso-Brasileira de Letras, através de seu Presidente Francisco dos Santos Amaral Neto convida para Conferência com o ator/diretor e escritor SÉRGIO FONTA – que comanda o programa TRIBO DO TEATRO, toda sexta, às 12:30h, na rádio Roquette Pinto -, que vai comentar a obra de um dos Dramaturgos Brasileiros mais importantes de todos os tempos, o pernambucano NELSON RODRIGUES.

Nelson Rodrigues, um dos dramaturgos mais festejados do país…

A atual montagem de Vestido de Noiva pelo grupo Os Satyros: em cartaz até domingo no Teatro Cacilda Becker (SP). Direção Rodolfo García Vázquez e Helena Ignez como Madame Clecy.

Marília Pera: Madame Clecy na versão cinematográfica de Vestido de Noiva

A obra a ser destrinchada por Sérgio Fonta é a mais popular de Nelson, a emblemática Vestido de Noiva, que ganha sucessivas montagens em todas as partes do país, já tendo também chegado ao cinema e à tela da TV Globo.

Tônia Carrero e Suzana Vieira na versão de Vestido de Noiva para a TV Globo – Programa APLAUSO, 1979…

Considerada marco inicial do moderno teatro brasileiro, encenada pela primeira vez em 1943 com direção do polonês Ziembinski, Vestido de Noiva causa polêmica desde sua primeira montagem. Segundo o professor e crítico Sábato Magaldi, grande estudioso de Teatro, esta faz parte de uma série de peças psicológicas do dramaturgo, com uma linguagem forte que transporta para o palco a profunda angústia presente nos textos do autor, capaz de chocar e emocionar o público há gerações pelo modo cru e abrupto de retratar a realidade velada da classe média carioca.

Uma das montagens de Vestido de Noiva em 1965…

A trama acontece através de ações simultâneas, as quais vão-se desenhando em três planos – realidade, alucinação e memória.

Versão dos Sátyros: Ivam Cabral, Helena Ignez e Cléo De Páris (foto: André Stéfano)

VESTIDO DE NOIVA é a peça que deu início ao processo de modernização do teatro brasileiro

Essa era a segunda peça escrita por Nelson. O autor trabalhava como jornalista, profissão que herdara do pai, e procurava, naquele período, uma fonte de sustento complementar. Seu primeiro trabalho para os palcos, A Mulher sem Pecado, tinha como pretensão conseguir o sucesso obtido por outras produções da época, como A Família Lero-Lero, comédia do cearense Raimundo Magalhães Júnior.

O grupo Os Comediantes na revolucionária versão de Vestido de Noiva, 1943

De acordo com os estudiosos, embora a peça de Nelson fosse obra de valor artístico muito superior a de Magalhães Júnior, ao estrear, em 1942, não obteve a simpatia do público e resultou em fracasso de bilheteria. Um ano depois, Vestido de Noiva iria revolucionar o teatro brasileiro através da lendária montagem sob a direção do polonês Zbigniew Marian Ziembinski, que chegara ao Brasil cerca de dois anos antes. E aqui, pela primeira vez, foi então usado o hoje muito conhecido Método de encenação do russo Stanislavski, através do qual é o próprio ator quem empresta aos personagens suas emoções pessoais para então criar uma outra persona através de sua própria vivência, suas experiências, sua memória afetiva.

Ziembinski deu nova forma ao texto de Nelson. Seu rigor na encenação  com a exigência de ensaios constantes, e a transmissão de novas diretrizes em termos de interpretação elevou a concepção brasileira de teatro a novos níveis.

Yoná Magalhães como Alaíde na versão de Vestido de Noiva, em 1965…

A representação de VESTIDO DE NOIVA, conforme a divisão em 3 planos, desenvolve-se em três atos, cuja relação não é exatamente cronológica, a não ser no plano da realidade, o qual acompanha a degradação do estado de saúde de Alaíde e a aniquilação consequente dos outros dois planos.

A versão dirigida por Gabriel Villela em 2009 com Leandra Leal, Marcello Antony e Vera Zimmermann…

 A palestra de SÉRGIO FONTA intitula-se VESTIDO DE NOIVA: NELSON RODRIGUES EM TRÊS ÂNGULOS DE HISTÓRIA e acontece na próxima terça, com ENTRADA FRANCA.

SERVIÇO

Luciana Braga e Malu Mader em uma das versões de Vestido de Noiva

Conferência VESTIDO DE NOIVA: NELSON RODRIGUES EM TRÊS ÂNGULOS DE HISTÓRIA

Com o escritor SÉRGIO FONTA

ONDE:  Academia Luso-Brasileira de Letras
(Confederação das Academias de Letras do Brasil)

Endereço: rua Teixeira de Freitas, 5 / 3º andar, Lapa , RJ
perto da Estação Metrô/Cinelândia (saída Passeio)

Horário: 16h

ENTRADA FRANCA

Marcello Antony como Pedro e Leandra Leal como Alaíde em montagem dirigida por Gabriel Villela…