“Os Famosos e os Duendes da Morte” teve a primeira sessão agora há pouco no segmento Generation 14 Plus, recorte paralelo à competição oficial da Berlinale. O belo cinema art-déco Babylon, fora do circuito principal do festival, estava com seus quinhentos lugares ocupados eminentemente por jovens, público que por certo melhor sintoniza com o longa-metragem de estréia de Esmir Filho.
Ainda foram necessárias cadeiras extras para acolher espectadores. A recepção ao final foi calorosa nas palmas e boa parte da sala permaneceu para uma rápida conversa com o diretor, acompanhado de Ismael Caneppele, ator e autor do livro no qual o filme se baseia, da produtora Sara Silveira e do protagonista Henrique Larré.

“Para mim é muito importante e emocionante essa presença significativa de vocês”, disse Esmir para o público. “Berlim é o melhor lugar para exibir meu filme, porque como vocês viram há uma relação forte com a Alemanha, dos imigrantes que se instalaram no sul do Brasil, nessa comunidade onde a história se passa; pude perceber que vocês entenderam isso quando riram nas passagens dos diálogos em alemão.”
Esmir se referia aos momentos em que o personagem de Larré, fanático por Bob Dylan e que se autodenomina Mr. Tambourine Man em seu blog, conversa com seus avós alemães. A trama ocorre em torno desse adolescente, órfão de pai e um tanto solitário que procura viver à margem do cotidiano aborrecido do vilarejo da Pomerania, região colonizada por alemães.
A internet é seu meio de contato com o mundo, onde escreve uma espécie de diário sentimental e guarda lembranças de uma menina já morta. O suicídio é um ato recorrente na cidade e a melancolia do protagonista é ressaltada por essa condição. Haverá outra questão em jogo também, relacionada a sexualidade.
É portanto do universo das descobertas naturais da idade de que fala a obra autobiográfica de Caneppele, que interpreta um colono local de influência na vida do garoto. “Foi difícil para mim viver isso na tela, pois olhava para o Larré lembrando como eu era há dez anos e como foi duro aquela época perder amigos e conhecidos; os suicídios relamente aconteciam naquela ponte que está no filme”, disse o ator e autor.
Muito tímido e calado no início da conversa, Larré por fim deu seu depoimento e impressionou a platéia. “Foi estranho, mas depois que comecei a fazer o filme também soube de suicídios de jovens na cidade em que nasci, que não é a do filme”.
Para Esmir, o fundamental no projeto foi trabalhar com atores ainda novatos do Rio Grande do Sul e figurantes locais. “Mesmo o material dos garotos que se vê na internet são reais e pertencem aos jovens moradores da cidade; pedi para que me enviassem e assim usar no filme”. O filme tem previsão de estréia para o final de março, quando também deve ser mostrado pela primeira vez à população da pequena cidade-cenário. “Estou animado para saber a reação deles”.
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