Conhecida como a Rainha da Fronteira, Bagé é o centro histórico e geográfico do modelo cultural gaúcho
A praça Silveira Martins, bem no centro da cidade
As cidades têm as suas marcas culturais que vão além das características geográficas e socioeconômicas. A maioria dessas marcas são frutos de ações político-culturais, criadas e desenvolvidas pelo poder público com o objetivo de vender a cidade turisticamente. Outras marcas são espontâneas e se formam ao longo do tempo pela tradição. Por exemplo: Santa Maria é a cidade universitária, marca consagrada ao longo do tempo. Já foi a capital ferroviária. Joinville hoje é a cidade da dança, graças à movimentação do poder público e da iniciativa privada. Gramado, cidade eminentemente turística, ficou conhecida como centro de congressos e convenções e, especificamente, pelo Festival de Cinema, sendo hoje reconhecida como cidade do cinema brasileiro. Mesmo nunca tendo produzido um só filme, atrai para lá milhares e milhares de visitantes, turistas culturais que para lá acorrem para assistir aos filmes e verem de perto as celebridades.
A bela igreja de Nossa Senhora da Conceição, jóia arquitetônica em Bagé
Quando, no primeiro ano do governo Mainardi, ocupei função na Cultura, tentei convencer o prefeito, e quase consegui, criar para Bagé a marca “Cidades das Artes Plásticas” ancorado na marca mundial que temos e que não valorizamos: o “Grupo de Bagé”, nacionalmente conhecido como exponencial da pintura brasileira, e mundialmente reconhecido pela importância da produção em gravura de seus integrantes, ímpar em toda a América Latina.
Sede da prefeitura de Bagé, cidade pródiga em Artistas do Desenho, da Palavra e das Imagens
Ainda não desisti da idéia e, hoje, posso declarar que já tenho o apoio do prefeito Dudu para a implantação da “Fundação Grupo de Bagé” que deverá ser a grande usina da produção e difusão das artes plásticas, hoje ditas visuais, não só dos nossos grandes mestres como também dos jovens artistas que surgem a cada dia nesta cidade iluminada. Paralelamente, trabalho em outro projeto, que é o de transformar Bagé em um pólo de produção cinematográfica. Paulínia, lá em São Paulo, já tem o seu pólo que apóia e fomenta a produção cinematográfica. Porto Alegre, pela tenacidade dos realizadores, que não contam com maior apoio do poder público, está se transformando no terceiro ou segundo pólo de produção em cinema. No interior do Estado, não temos ainda nada semelhante, mas poderemos ter se vingar a nossa idéia. E explico: Bagé é o centro histórico e geográfico do modelo cultural gaúcho, além do que, temos a paisagem diversificada, uma das melhores luminosidades do mundo, e quem diz isso não sou eu, e sim os pintores e fotógrafos do mundo inteiro que por aqui passam.
Centro Comercial Hotel do Comércio, onde funcionou o primeiro hotel de Bagé
Temos, ainda, graças ao avanço das comunicações, especialmente da internet, uma juventude inquieta e criativa, já fazendo o seu cinema com câmeras digitais e até com aparelhos celulares. Temos 300 anos de história épica. Só para lembrar, o ciclo do western americano se reduz a 30 anos de história.
Hoje, com a Uergs, Urcamp, Unipampa e mais o IFSul, temos uma clientela potencial de milhares de jovens sensibilizados para a música, para o cinema e para outras artes.
Graças ao avanço da tecnologia, hoje está bem mais barato fazer cinema, o que os realizadores precisam é que também sejam sensibilizados os poderes públicos e a iniciativa privada. Talentos não nos faltam, basta um empurrãozinho e meninos e meninas, logo ali, estarão produzindo obras artísticas da melhor qualidade. Temos é que largar na frente e tratar o quanto antes de cunhar esta marca Bagé Pólo de Produção Cinematográfica. O embrião já existe: Festival de Cinema da Fronteira, que, neste ano do bicentenário, irá para sua terceira edição, devendo atrair, em novembro, para Bagé, não só filmes mas também realizadores, críticos e artistas de países limítrofes, bem como, quiçá, profissionais de outros países que aqui, além de exibirem e debaterem seus filmes, por certo deixarão sementes que, regadas e cuidadas por nossos jovens, resultarão, em breve, em frondosas árvores da cinematografia. Isso, a médio prazo, poderá se transformar em atividade econômica, bem como estimular o turismo cultural, que também resulta em fonte de renda para os habitantes e para o governo.
Ruínas da Enfermaria Militar, no ponto mais elevado da cidade, em terreno rochoso conhecido como Cerro da Pólvora ou Cerro da Enfermaria.

Catedral de São Sebastião, concorrido ponto turístico da cidade de Bagé
Compre você também, meu leitor, essa idéia e saiba que não lhe estou vendendo porcaria. Aposte no cinema e dê um crédito de confiança a nossos futurosos jovens que, logo ali, nos darão projeção além-fronteiras, quando você poderá, também, se incluir como construtor de um sonho que se tornou realidade, graças a essa luz que brota do solo de nossa terra, iluminando nossos criativos que tanto se orgulham de sua “bajeensidade”. Seja o bicentenário o tempo em que o cinema floresceu em Bagé.
* Texto de Sapiran Brito – Secretário Municipal de Cultura de Bagé