Renascer revigora Horário Nobre com a potente dramaturgia BARBOSA-LUPERI

       “Renascer”, a telenovela que estreou em janeiro e simboliza, desde então, um momento auspicioso da Teledramaturgia Brasileira, vem-se desdobrando em capítulos que encharcam a tela de beleza, enchem o coração de emoção, despertam preferências e afloram sensações, além de estimular oportunas e necessárias discussões sobre pautas éticas que carecem de atenção social e avanços inquestionáveis.

Texto original do escritor Benedito Ruy Barbosa, produzido e exibido pela primeira vez em 1993, a releitura primorosa de Bruno Luperi para a dramaturgia do avô, ratificando seu caráter de obra atemporal, pujante, bela, necessária.       

      Escrevendo juntos desde “Velho Chico” (TV Globo, 2016), grandiosa novela das 9 dirigida por Luiz Fernando Carvalho que uniu Shakespeare e Cervantes no sertão nordestino – com Antônio Fagundes, Domingos Montagner, Camila Pitanga, Marcos Palmeira, Gabriel Leone, Irandhir Santos e Marcelo Serrado -, desde então a dupla Barbosa-Luperi, avô e neto, assina dramaturgia do mais alto quilate na TV. Portanto, já é hora de falar em dramaturgia conjunta, parceria responsável por títulos da grandeza de “Pantanal” (2022) e agora esta potência dramatúrgica, cuja narrativa parte de disputa sobre o plantio de cacau no interior baiano para traçar um painel de raízes do Brasil rural e tematizar questões como o respeito ao meio ambiente e o tão negligenciado cuidado com o manejo do solo para não arruinar plantações; lições sobre o quanto pode ser benéfico para a coletividade o correto cultivo do cacau; a convivência salutar com um ecossistema preservado; além de pautas identitárias como o racismo, o sistema patriarcal, o coronelismo, a opressão contra a mulher, exploração patronal e trabalho escravo.

Tudo isso compõe uma bela teia de produção de sentidos, propiciada pela novela das 9, feito que alcança com uma estética riquíssima (para a qual somam todos os elementos, do texto à interpretação, dos temas aos enquadramentos, da fotografia à maquiagem passando pelos cenários, caracterização, figurinos, a trilha, a escolha das músicas, até chegar à encenação, na qual despontam contracenas prodigiosas, a merecer, por diversas vezes, aplausos em cena aberta.

           Uma obra tem tanto mais artisticidade quanto maior for o número de releituras capaz de provocar. Estão aí Shakespeare, Tchécov, Henrik Ibsen, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa a nos confirmar com galhardia. Sem falar na seara musical, na qual as releituras são constantes e somam arranjos preciosos. Portanto, se há concepção nova, acréscimos, alterações, reflexões outras a partir da obra primeva, existe releitura, a dizer algo inovador, prospectando atualização, trazendo ressignificação, um repensar sobre o antigo (e não sobre o velho), em nova interpretação sobre a obra original, logo, a raiz é forte, fecunda e não vai cessar de dar frutos.

Com interpretação forte e cheia de nuances, Marcos Palmeira imprime densidade ao personagem principal de RENASCER.

          Destarte, “Renascer” é dramaturgia sintonizada com o hoje, como o foi a versão original, ganhando agora a sensibilidade/talento/inteligência do jovem Bruno Luperi, acrescendo reflexões, importantes, preciosas, provocando empatia e repercutindo a trama com muito mais eloquência, não só por questões técnicas (a qualidade das câmaras, com modelos mais leves e cada vez mais sensíveis; dos microfones e da captação de som, o aporte dos drones e diversos outros itens) mas, sobretudo, porque estes mais de 70 anos de existência da telenovela fizeram deste produto artístico um nicho de excelência no qual o Brasil é Mestre, aplaudido internacionalmente, e a coleção de prêmios conquistados pela TV Globo confirma essa indiscutível maestria.     

Através de Egídio (Vladimir Brichta) e Dona Patroa (Camila Morgado) – em atuações preciosas -, a temática do coronelismo e sua vilania implícita, na qual sobressai o machismo, é inserida com primazia na diegese de RENASCER, elevando nível da Teledramaturgia do Brasil.

Assim, a novela “Renascer” em cartaz de segunda a sábado na emissora líder – e em qualquer horário para quem assina Globoplay -, é obra de excelência pela qualidade de seu discurso visual, maquiagem e figurino condizente, direção arrojada, elenco engrandecendo o texto impactante de Barbosa-Luperi, o que fará de RENASCER a novela deste nascente 2024. Mais uma teledramaturgia que será marco na produção nacional da Rede Globo.

Embates constantes entre João Pedro (Juan Paiva) e o pai (Inocêncio, Marcos Palmeira) tem momentos icônicos de grandes atuações.

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