RENASCER consagra BBB potente, vigoroso e emocionante do horário nobre

Aurora Miranda Leão*

TV GLOBO oferta em sua programação diária, acessível a quem quiser, a riqueza da dramaturgia BENEDITO Ruy BARBOSA e BRUNO Luperi: ficção de alto quilate com clã BBB = Benedito Bruno Barbosa

José Inocêncio, vivido na primeira fase por Humberto Carrão, inova o coronelismo arraigado do sertão. Confira nossos comentários no Instagram @auroradecinema

   A novela “Renascer” é o grande buchicho das redes sociais desde sua estreia, em 22 de janeiro passado. Texto original do escritor Benedito Ruy Barbosa, produzido e exibido pela primeira vez em 1993, a novela retorna à grade da programação televisiva em nova versão, desta vez contando com o auxílio luxuoso de Bruno Luperi, neto do escritor.

       Preferimos não usar “remake” (termo que causaria repulsa no mestre Suassuna), como insiste a imprensa corriqueira, cujo objetivo é divulgar notas o tempo todo para alimentar páginas e garantir acessos, ao invés de pensar duas vezes antes de sair postando para medir quantidade, como se informar fosse uma “corrida de São Silvestre”… Defendemos “Renascer” como releitura ou reatualização da narrativa original.

           A personagem Cândida (Maria Fernando Cândido), participação especial e simbólica no capítulo inaugural (Foto: Estevam Avellar).

   Uma obra tem tanto mais artisticidade quanto maior for o número de releituras capaz de provocar. Estão aí Shakespeare, Tchécov, Henrik Ibsen, Euclides da Cunha, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa a nos confirmar com galhardia. Sem falar na seara musical, na qual as releituras são constantes e somam arranjos preciosos. Portanto, se há concepção nova, acréscimos, alterações, reflexões outras a partir da obra primeva, existe releitura, a dizer algo inovador, prospectando atualização, trazendo ressignificação, um repensar sobre o antigo (e não sobre o velho), em nova interpretação sobre a obra original, logo, a raiz é forte, fecunda e não vai cessar de dar frutos.

Os olhos de Santinha (Duda Santos) brilham de alegria diante da roda de Boi: cultura popular na essência do arcabouço narrativo de “Renascer”. (Fonte: TV Globo).

          Destarte, “Renascer” é dramaturgia sintonizada com o hoje, como o foi a versão original, ganhando agora a sensibilidade/talento/inteligência do jovem Bruno Luperi, acrescendo reflexões, importantes, preciosas, provocando empatia e repercutindo a trama com muito mais eloquência, não só por questões técnicas (a qualidade das câmaras, com modelos mais leves e cada vez mais sensíveis; dos microfones e da captação de som, o aporte dos drones e diversos outros itens) mas, sobretudo, porque estes mais de 70 anos de existência da telenovela fizeram deste produto artístico um nicho de excelência no qual o Brasil é Mestre, aplaudido internacionalmente, e a coleção de prêmios conquistados pela TV Globo confirma essa indiscutível maestria.

Venâncio (Fábio Lago), Firmino (Enrique Diaz) e coronel Belarmino, o abominável trio do mal: interpretações soberbas de intérpretes magistrais !

 Belize Pombal é Quitéria, a oprimida mãe de Santinha: atuação notável, digna de todos os Aplausos ! (Fonte: TV Globo).

   Assim, a novela “Renascer” em cartaz de segunda a sábado na emissora líder – e em qualquer horário para quem assina Globoplay -, é obra de excelência pela qualidade de seu discurso visual, maquiagem e figurino condizente, encenação e fotografia prodigiosas, direção arrojada, e elenco engrandecendo o texto impactante de Barbosa-Luperi, aspectos a favorecer RENASCER como a novela a dominar este nascente 2024. Mais um título para somar à suculenta coleção de teledramaturgia nacional da Rede Globo.

A bonita relação de cumplicidade entre Jupirá (Evaldo Macarrão), José Inocêncio (Humberto Carrão) e Deocleciano (Adanilo).

José Inocêncio (Carrão), o “coronelzin”, e Belarmino (Calloni), o coronel, símbolo do poder patriarcal na Ilhéus de “Renascer” (20024). 

  Os protagonistas são Humberto Carrão, Antônio Calloni, Juliana Paes, Enrique Diaz, Fábio Lago, Belize Pombal, Duda Santos, Edvana Carvalho, Matheus Nachtergaele, Adanilo e Evaldo Macarrão (intérpretes de Deocleciano e Jupará, maravilhosos), e a primeira fase ganhou mais 13 capítulos (a de 1993 teve apenas 4). Marcada para começar em 5 de fevereiro, a segunda fase terá Marcos Palmeira, Vladimir Brichta, Sophie Charlotte, Irandhir Santos, Theresa Fonseca, Camila Morgado, Juan Paiva, Marcelo Mello Jr., Giullia Buscacio, Rodrigo Simas, Xamã, Almir Sater, Jackson Antunes e Ana Cecília Costa, entre outros. Voltaremos a falar sobre a novela. Obra para ver e rever.

Euclides da Cunha fez do Sertão protagonista na obra-prima que inaugura a reportagem literária brasileira

       No primeiro dia de dezembro deste findante 2023, a obra-prima de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, completa 121 anos. São, portanto, mais de século dizendo sobre o país e provocando reflexões sobre este imenso, complexo e conturbado território, ainda cheio de contrastes e disparidades sociais gritantes.

      Lançado em 1902 e tendo sua primeira edição esgotada em 80 dias – feito raro para a época -, o livro tornou o nome de Euclides da Cunha conhecido da noite para o dia. Sobre a obra, considerada a “Bíblia da Nacionalidade”, assim escreveu o jornalista e escritor sergipano Paulo Dantas (2003):

“O livro gibão-de-couro, espécie de evangelho nacional, a nossa maior obra de sociologia e história, de geografia e estilística, com a qual, mais cedo ou mais tarde, todo brasileiro medianamente alfabetizado, terá de travar conhecimento, se não no seu todo, pelo menos em parte, através de trechos antológicos” (DANTAS, 2003, p. 12).

         Naquele dia primeiro de dezembro, as vitrines das principais livrarias cariocas, exibiam a venda de um novo livro: o autor era um desconhecido do meio literário, do público, da imprensa. A obra do estreante contava 637 páginas incluindo mapas, desenhos e fotografias originais, edição da Laemmert & Cia, editores sediados na rua do Ouvidor, com filial em São Paulo.

          “Os Sertões” teve tiragem inicial de 1000 exemplares, custeada pelo próprio autor, que empregou um salário e meio na empreitada, quase indo à falência por tamanho empreendimento. Nada foi vendido nos primeiros dias e o editor chegou a enviar carta a Euclides declarando-se arrependido de o ter editado. Até que uma crítica positiva provoca uma reviravolta e “Os Sertões” começa a ser procurado, vendido, lido, comentado, elogiado e, em poucos meses, a primeira edição esgotou. O país tomava conhecimento da obra singular e os pedidos causavam alvoroço nas livrarias do Rio de Janeiro, não tardando a sair a segunda edição, cinco meses após o esgotamento da primeira. Euclides da Cunha torna-se um fenômeno literário.

          A apreciação inaugural sobre a obra euclidiana, assinada pelo historiador e respeitado crítico literário José Veríssimo, membro da Academia Brasileira de Letras, alavancou intensa repercussão nacional. A crítica, consagradora, foi publicada 2 dias após o lançamento, portanto em 3 de dezembro de 1902, atraindo para Euclides todas as atenções do público e das elites pensantes. Ano seguinte, o escritor é convidado a ser imortal da Academia Brasileira de Letras e do Instituto História e Geográfico do Rio de Janeiro.        

A tríade euclidiana

        “Os Sertões” é constituído de três capítulos, formando a tríade A Terra, O Homem, A Luta. A organização é primorosa, facilitadora de seu entendimento: cada um deles é dividido em tópicos, cujos títulos funcionam a resumir seu conteúdo, sendo portanto chave decodificadora a conduzir o leitor por prosa agradável e instigante.

         No primeiro, o ledor vai sendo conduzido pelo viajante que sai de São Paulo, em setembro de 1897, para chegar ao interior da Bahia e narrar uma guerra. A travessia é descrita de modo tão minucioso e poético que a adesão acontece sem dificuldade. Após atravessar o vasto e ignoto território nacional, a aguçada sensibilidade do escritor dedica-se a falar sobre os masculinos encontrados ao longo da estoica caminhada, enumerando tipos como o pescador, o sertanejo, o jagunço, os beatos, os romeiros, etc. No capítulo final, Euclides apresenta um meticuloso rosário de tudo quanto percebeu em seus conturbados dias no sertão baiano: coloca o leitor no epicentro da luta, o arraial de Belo Monte, cenário do hediondo massacre que vitimou os seguidores do beato cearense Antônio Conselheiro. O relato é de uma soberania estrondosa, semelhando joia filigranada em delicados filetes de prata e ouro. 

         Valendo-se de habilidades militares e até científicas, o autor discorre sobre fauna, flora, relevo e diversos outros aspectos do rincão sertanejo, fazendo uma pujante radiografia da seca afligidora da região. Na parte central, examina as adversidades vividas pelas gentes do sertão, sendo o trecho visto como estudo antropológico e sociológico:

“Amadurecido o espírito, tomando-se gosto pelo estilo mágico e poderoso, transfigurado e sustentado de Euclides, acostumando-se ao seu tom, à sua medida e atmosfera, a fascinação geral do livro vem, a galope, num tropel, num arrastão ou numa disparada” (DANTAS, 2003, P. 14).

           Ousamos dizer que a pecha de difícil e hermético prescrita ao livro não condiz com a satisfação de adentrar pelos becos, vielas e paisagens do cenário agreste descritos pelo escritor com precisão de ourives. Que imenso prazer mergulhar no “consórcio de arte e ciência” euclidiano e ir conhecendo, pouco a pouco, pedaços do país até então recônditos. Ser levada ao dicionário várias vezes para entender melhor o vocabulário é exercício auspicioso e estimulante, o qual só nos faz, ainda mais, admirar a qualidade do notável autor fluminense.

        Discordo e desconecto veementemente daqueles que afirmam ser cansativa e penosa a leitura da obra-prima de Euclides da Cunha (1866-1909). Ademais, lamentamos a naturalização dessa ideia incongruente, motivo para afastar gentes tantas e muitos estudantes de práxis a qual deveriam ler e tentar compreender para melhor entender a história do país e conhecer seu passado, pois somente assim será possível superá-lo e não repeti-lo. A nós, ressoa como privilegiado ensejo literário, oxigenação amorosa pelo Brasil e abundante vontade de descortinar os recônditos deste país por ele tão amado.

         Destarte, adentramos o terceiro milênio confirmando o Sertão como lugar central, perene no imaginário e na produção de sentidos da brasilidade. Ainda mais potente que a simbologia dos fins do século XIX – o estranho, o longe, o indesejável, continuum por todo o XX –, o Sertão virou metonímia de Canudos, que aduz os invisibilizados, os excluídos, os ‘indesejáveis’ das aristocracias, traz a Favela e assegura seu lugar na vida cotidiana do campo e da cidade, do urbano e do rural, dos confins de todo o país. Logo, Canudos tem atualização incessante, vívida, permanecente. Canudos virou simbologia recorrente: é ressignificado, reconfigurado, está Presente na vida nacional, entranhado na História, mais corriqueiro hoje do que quando se deu a conhecer pelas notícias desencontradas, pouco críveis e mal apuradas da mídia de fins de 1800…

        Euclides também foi induzido a crer na fantasia jornalística da conspiração contra a República, e não é de somenos valia lembrar que estamos tratando do final do século XIX, tempo no qual a informação levava rios e voltas no relógio para se fazer ecoar. A mídia corrente era a desinformação ou informação imprecisa, pouco apurada, cheia de ruídos. Foi preciso Machado de Assis (1839-1908) começar a duvidar das notícias publicadas como verdade, sem fundamentação teórica nem apuração precisa – dando conta da existência de uma horda invencível nos sertões da Bahia -, para externar suas dúvidas quanto ao suposto complô, e sugerir ao amigo a ida a Canudos para tentar entender o que realmente estava a acontecer. Fruto da concordância com a percepção machadiana, o engenheiro/poeta/militar/jornalista e escritor Euclides da Cunha (1866-1909) escreve dois artigos para o então jornal “A província” (hoje Estado de São Paulo), intitulados “A nossa Vendeia”[3].

        Dada a repercussão dos textos, logo em seguida, Júlio de Mesquita, dono do periódico, convida Euclides para ir a Canudos cobrir a guerra “dos sertanejos rebeldes que não aceitavam a República”, como pensava a maioria, incluindo-se aí o próprio convocado. A imprensa acreditava haver uma conspiração monarquista para derrubar o governo recém-nascido, e é munido da ideia de perigo rondando a República que Euclides parte para o sertão nordestino. Os habitantes de Canudos seriam contrarrevolucionários desejosos de exterminar o novo regime e seus defensores, a qual seria, juntamente com o final da escravização, o primeiro passo efetivo no resgate do atraso brasileiro e no rumo da entrada do país no concerto das nações civilizadas (GALVÃO, 2009, p.33).

           Com a publicação de “Os Sertões”, a inventada conspiração monarquista internacional “esfumara-se no ar”. Sobreveio o “massacre indiscriminado da gente pobre”. Os mesmos que defendiam o extermínio do povo canudense começam a falar, emocionados, em crime. Os estudantes, defensores vigorosos da República, passam a protestar indignados: “As forças armadas se viram cobertas de opróbio. O arraial de Canudos fora arrasado, depois de empapado em querosene, a que foi ateado fogo com bombas de dinamite. Resistiria até o último homem tombar morto.” (Galvão, 2009, p33).

        Partindo de São Paulo em 1897 – imaginem-se as precárias condições encontradas pelas estradas que ligavam o país de Sul a Norte (as outras regiões não tinham as denominações de hoje) -, o escritor descreve essas paragens com maestria no primeiro capítulo do livro, A Terra – de pujança capaz de arrebatar qualquer leitor -, com o qual encantei-me de cara pelo refinamento das letras, a descrição poética e minuciosa da ambiência, e a percepção aprofundada da flora e das características do solo nacional:

O olhar fascinado perturbava-se no desequilíbrio das camadas desigualmente aquecidas, parecendo varar através de um prisma desmedido e intáctil, e não distinguia a base das montanhas, como que suspensas. Então, ao norte da Canabrava, numa enorme expansão dos plainos perturbados, via-se um ondular estonteador; estranho palpitar de vagas longínquas; a ilusão maravilhosa de um seio de mar, largo, irisado, sobre que caísse, e refrangesse, e ressaltasse a luz esparsa em cintilações ofuscantes…” (CUNHA, 2017, p. 63, grifo nosso).

     Euclides da Cunha ficou 23 dias em Salvador esperando autorização do Exército para tomar o rumo de Canudos, entrando no arraial do Belo Monte em 10 de setembro, de lá retornando, doente, em 3 de outubro de 1897, dois dias antes do massacre final dos sertanejos. Ele acompanhou presencialmente apenas a ida da 4ª Expedição, o bastante para que escrevesse a obra fundamental que explica, narra, conta, disseca e radiografa o Brasil.

      Nessa trilha, “Os Sertões” é caso raro a exemplificar a afirmação do jornalista e escritor cubano Italo Calvino (1923-1985), expressão fidedigna de obra-prima: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”(CALVINO, 2009).

Foto feita em Canudos por Flávio de Barros (acervo do Museu da República).

          A obra euclidiana é também o alicerce fecundo no qual se ancora a diegese da supersérie “Onde nascem os fortes” (TV Globo, 2018), de George Moura e Sérgio Goldenberg – pequena joia da Teledramaturgia Brasileira, hoje encravada nos arquivos da plataforma de streaming Globoplay como ‘novela’ -, objeto de nossa pesquisa de doutoramento em Comunicação, a ser concluída no primeiro semestre do ano vindouro.   

         Um livro intrigante, instigante, inquietante, vibrante, diante do qual a palavra neutralidade inexiste ou, diante do qual a indiferença sucumbe, bestial, ineficaz e incongruente. Simplesmente porque, ao radiografar o Brasil, por ele batizado de Profundo, desértico, desmedido, multifário e desconhecido, “Os Sertões”(1902) sugere um olhar desvelador para si mesmo e para o país, como a se enxergar do alto de um mirante, revelando um lugar que é Tanto/TÃO que, ao ser reduzido a um só, perderia sua essência e magnitude, negando sua vitalidade intrínseca. Como se, de posse de sua poética ou do âmago de sua diegese, a todo instante se dissesse, qual Drummond, “Vai ao Sertão… Mira, segue, vai, avança, adentra, olha ao longe, vê ao redor, no perto, no íntimo, no longe, no estranho, no desconhecido, alrededor:

*Para saber mais sobre Euclides da Cunha, acesse o site da Casa Euclidiana, que fica em São José do Rio Pardo, cidade onde o escritor escreveu grande parte de “Os Sertões”: https://casaeuclidiana.org.br/portal/

“As aventuras sexuais de Enila” será lançado esta semana em Juiz de Fora

            “Fantasias. Segredos. Traumas. Desejos. Enfim, tudo isso você vai encontrar em As aventuras sexuais de Enila. Ao ler cada página, em alguns momentos você pode se chocar e, em outros, se identificar. A trama nos leva a refletir sobre os medos e desafios de se  assumir uma identidade. De realizar um desejo. Enfim, de ser feliz  da forma que se achar melhor. Como a maioria de nós, o que Enila busca é o prazer e o amor. Quem não pensa nisso, que atire a primeira pedra. Vivemos em uma sociedade que costuma julgar as escolhas dos outros e sente incômodo com o que considera diferente ou ousado. Sexo ainda é tabu, pecado para alguns, mesmo que, em caminhos semelhantes aos de Enila, muita coisa da vida dessas mesmas pessoas também pudesse causar reações inesperadas. Afinal, quem não fez um terço do que Enila fez e passou, pode ter convivido com as fantasias e as frustrações de não ter dado um passo a mais para realizá-las.”

Assim diz o prefácio escrito pelo professor Dr. Márcio Guerra (UFJF), atual Secretário de Comunicação Social da prefeita Margarida Salomão (PT), que abre o livro de Vitor Almeida, “As aventuras sexuais de Enila”, a ser lançado esta quarta, 29 de novembro, em Juiz de Fora.

Vitor Almeida é mineiro de Cataguases, jornalista e doutorando em Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora. O lançamento terá lugar na Livraria Leitura do Shopping Jardim Norte, na cidade da Zona da Mata mineira. O livro marca a estreia do autor na Literatura e também a do selo Kāma, braço erótico da Editora Lacre.

A publicação narra a história de uma travesti nascida no interior de Minas Gerais. Ao longo das mais de 120 páginas, o leitor vai descobrir, junto com Enila, o mundo sexual e pessoal de uma travesti, sofrida, destemida e disposta a tudo para buscar essa tal de Felicidade.

Resumo:

            O livro mais pornográfico que você já leu! Enila, ainda como Lucas Tetinha, começa a descoberta do mundo dos prazeres sexuais no interior de Minas Gerais aos 11 anos de idade. Aos 14 anos, perde a virgindade e inicia sua vida de subversão sexual; nesse momento, nasce Enila, uma travesti que não tem limites para realizar suas fantasias sexuais e aplacar sua fome de pênis. Ao ficar órfã, ela é emancipada e casa-se com um dos grandes amores de sua vida. Mas, a alegria de pobre dura pouco. Logo Enila descobre que terá que se virar para manter-se viva. Tudo isso enquanto dá vazão aos seus instintos internos numa busca desenfreada por sentir-se preenchida através do sexo. Driblando o preconceito de uma sociedade tradicional e sendo muitas vezes alijada e passada para trás.

            Surubas com desconhecidos, cortes, dor, dupla penetração, tripla penetração, prostituição, proxenetismo, chuva dourada; para Enila não existem limites na busca pelo prazer e pela sublimação pessoal. Seria isso uma busca por transcender o corpo ou uma necessidade de se sentir preenchida para tapar os buracos internos de solidão?

            Mergulhe nesta leitura prazerosa que proporciona uma redescoberta pessoal. Quais são os seus limites?

Trecho:

            Eram 17 horas e eu finalmente ia conhecer o apartamento luxuoso em que eu moraria. Mal podia esperar para ter uma noite quente quando descobri mais uma regra do nosso joguinho: eu devia fidelidade ao Fred, mas podia dar para outros junto com ele. Fred contratou três garotos de programa sarados, negros e pirocudos. Quando eu vi aquilo me acabei. Fui logo abrindo o meu vestido e oferecendo meus peitos para um deles chupar. O outro eu desci a cara e enfiei no meu cu para receber um beijo grego bem gostoso. Eu mandei os dois meterem juntos; um deitou, eu sentei em cima, arrumei bem o cacete dentro e deitei também. O segundo chegou metralhando. Ficamos nisso quase uma hora inteira. Eles gozaram duas vezes cada e eu poderia encher um balde com a minha porra.

SERVIÇO

Coquetel de Lançamento do livro

Autor: Vitor Almeida

Prefácio: Professor Doutor Márcio Guerra

Onde: Livraria Leitura, Shopping Jardim Norte, Juiz de Fora (MG)

Quando: 29 de novembro, quarta, às 19h.

Selo Kāma – Editora Lacre, 124 páginas, R$ 51,00

*Para adquirir “As aventuras sexuais de Enila”, acesse https://editoralacre.com.br/produto/as-aventuras-sexuais-de-enila/

DRUMMONIANA

Mundo mundo, vasto mundo

Se eu me chamasse

Pesticida ou namorasse

Um qualquer vagabundo

Seria sem nexo, bastarda

Aberração sem sentido

Não promessa de comunhão

Mundo mundo, infausto mundo

Se eu fosse A Favorita

Não Laureta dissimulada ou Zoé vilã

Não negaria a contracena

Ainda fosse em figuração

Protagonismo é possível

Em qualquer nível de atuação

Mundo mundo, desorientado mundo

Se eu me chamasse Caetana

Seria do mano Odara

E não uma avestruz

Perdida no Saara

Mundo mundo, imenso mundo

Conturbado espaço

Se eu fosse mineira

Balofa ou gordinha seria

De tanto pãozin de queijo comer

Requeijão e goiabada cascão absorver

Vossa aprovação não iria merecer

Mundo mundo, complicado mundo

Se eu fosse alcoviteira

Teria espaço certo

Em muito bolso de algibeira

Não seria virtual desempregada

No cordão da saideira

Mundo mundo, estilhaçado mundo

Se eu pudesse fugir no tempo

E fosse ao submundo conectar

Seria uma desmiolada

Não defensora do Verde

Do mar, do sertão, ativista da paz

Nem leitora de Maffesoli

E de Vinícius defensora contumaz

Mundo mundo, destrambelhado mundo

Se rimasse meu nome

Com 89 mil pago em cash

Dispensando até cheque

Eu seria uma desvairada

Qual ex-Dama Primeira

Em boa hora defenestrada

Fingindo honestidade

Pregando na porta da igreja

Aos outros, fiel retidão

Não cidadã com profusão

De amigos no contracheque

Mundo mundo, incongruente mundo

Se eu me chamasse Gambiarra

E de braços dados andasse

A bradar algazarra

Com algum incongruente

Libertina e doidivanas seria

A pernoitar na horizontal

Não seria uma jornalista

Desinteressada de embuste

Ainda surreal fosse

Experimentar amor na vertical

Mundo mundo, açoitado mundo

Se a madama melhor pensasse

Pra tanto gasto inútil

Consumo desarvorado, superficial

Atinasse talvez o desperdício prejudicial

Largava mão de pretender

Querer ser, ter ou parecer

Feito marionete descartável

Vocacionada à submissão

No fim das contas de roldão

Escravizada pelo machão

Talvez pérola fosse

Afortunada, bem sucedida

Mala de viagem sempre pronta

Sorriso, simpatia e cidade preferida

Não seria esta algaravia

Procurando lugar recôndito

Onde escondeu-se a magia

Mundo mundo, acelerado mundo

Poluído e por demais devastado

Acaso me chamasse Quebramar

E a performar me convidassem

Partiria feliz rumo ao mar

Semelhando nadadora

Afoita, audaz, ecológica

Não atriz a invejar o luar

Mundo mundo, descompassado mundo

Se adivinhasse eu onde mora

O amante viril, perfeito, libidinal

Proporia amor sem ponto final

Em ladeiras, becos, vielas

Nos escaninhos do prazer

Em qualquer direção subverter

Mundo mundo, Drummoniano mundo

Se eu me chamasse Libermundo

Provocaria um destempero

Nas convicções retrógradas

Na branquitude racista

Colonizada e escravocrata

No machismo nefasto secular

E nas convenções mofadas

Iria cantar, macumbar, celebrar

Ritos, festas, orgias partilhar

Vinho, Baco, comungar

Saudar Dionísio

E o coletivo proclamar

Congraçar com indígenas

Aprender o seminal

Dar as mãos aos excluídos

Irmanar aos ancestrais

Bater tambor, reindigenar

Ser Trans, Homo, Bi, Negríndia

CaribenhAmazônia

Reflorestar o pensamento

Profanizar o sagrado

Divinizar o humano

E reafirmar a vilania sagaz

Que o preconceito torpe esconde

Nas noites de cheia lua

Correria a desaquilombar

Minh’alma preta

A negritude celebrar

Num jogo de capoeira

Canto Dançafoxé

Rimar nostalgia, amor, cafuné

Musicar o bem, o bom, o belo

Convocar toda tribo pro Axé

Imagem do documentário do documentário “Wauja opanã”, do diretor indígena Piratá Waura

Eparrei, meu guia, Erehé

Ritos de pretos, indígenas, ciganos

Atuar, atuar, e junto com tanta gente

Proclamar o Teatro, consagrar o Ator

Irmanar e reflorestar o planeta

Abraçar, dançar, festejar

Apostar no Livre Pensar

E o terreiro libertar

Fazendo festa com Poesia

Toda cor de pele aclamar

Saudar Belo Monte e Uauá

Maré, Borel, Irajá, Vigário Geral

Caminito, Rocinha, Lagamar e Vidigal

Canudenses de qualquer torrão

Favela onde quer que esteja

Por morros, becos e vielas

Toda resistência é Sertão

Canudenses em foto de Flávio de Barros, acervo do Museu da República.

Mauro Alencar leva Teledramaturgia à Academia Brasileira de Letras

Um dos mais respeitados e prolíficos estudiosos de telenovela do mundo, o escritor/professor/pesquisador Mauro Alencar, é o convidado da terceira palestra do Ciclo Literatura & Cia, realização da Academia Brasileira de Letras, que acontece nesta terça, 21 de novembro, no Teatro Magalhães Jr. da ABL com entrada franca. O Literatura & Cia é coordenado pelo cineasta e acadêmico alagoano, Cacá Diegues.

A palestra está marcada para começar às 16h e a boa notícia é que também poderá será acompanhada online. Mauro Alencar vai falar sobre a adaptação literária para a teledramaturgia brasileira.

Foi ainda criança que ele descobriu-se encantado pela arte de contar histórias pela televisão. Mauro Alencar, garoto nascido na capital paulista, não perdia um capítulo das novelas que mobilizavam uma audiência cativa, e foi por causa dessas narrativas que optou por seguir profissionalmente os passos de quem tanto admirava:

“Eu sempre quis trabalhar nesse meio. Mesmo antes da adolescência, percebia que só havia um caminho para eu chegar ao universo artístico que eu tanto admirava, e o destino então era cursar uma escola de teatro. Foi então que aos 16 anos estudei no Teatro Escola Macunaíma, que funcionava onde viveu o escritor Mário de Andrade. Para seguir Comunicação em 1980, havia três faculdades em São Paulo: USP, FAAP e PUC, e somente a FAAP era dedicada a Rádio e TV e também incluía Teatro. Então fui pra lá e depois ingressei no curso completo do Teatro do Macunaíma, emendando com curso de Literatura e História, mas meu primeiro contato com a televisão profissional veio com um estágio na TV Cultura quando eu tinha 20 anos. Fiz dez comerciais como ator e foi aí que conheci Pelé”.

Autor do livro referencial, “A Hollywood Brasileira: Panorama da Telenovela no Brasil”, e da série “Grandes Novelas”, para a qual adaptou histórias clássicas da TV para o formato de livro, entre essas Selva de Pedra, O Bem-Amado, Pecado Capital, Roque Santeiro e Vale Tudo, Mauro Alencar integra diversas entidades acadêmicas de Comunicação no Brasil e no Exterior, como a INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación), LASA (Latin American Studies Association) e Academia de Artes e Ciências da Televisão de Nova York, participando da votação anual promovida pelo EMMY.

Simples como cabe aos grandes Mestres, simpático e cativante, Mauro Alencar fala com prazer e vivacidade sobre sua trajetória:

“Comecei a especializar-me cientificamente em Teledramaturgia quando colaborei com Ismael Fernandes no pioneiro livro “Memória da Telenovela Brasileira”, em 1987. Tive como mestra a grande cronista de TV, Helena Silveira. Eu tinha 25 anos. Depois fiz mestrado e doutorado na USP pelas mãos do magistral Sábato Magaldi. E tive como orientadoras Renata Palotina (no mestrado) e Maria Dora Mourão (doutorado). Diga-se de passagem, tive os melhores mestres do Brasil. Além deles, convivi com Décio de Almeida Prado, Beatriz Forbes, Maria Aparecida Baccega, Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Maria de Lourdes Motter, Cristina Costa e com o artista Cyro del Nero, pioneiro das artes gráficas na TV. E no Rio de Janeiro, Artur da Távola, Barbara Heliodora, Aluízio Ramos Trinta e Heloísa Buarque de Hollanda”.

Mauro Alencar afirma que a Literatura e o Teatro seguem como grandes fontes inspiradoras para manter a teleficção modernizada, mesmo com todo avanço tecnológico, e defende:

“O grande diferencial da teleficção brasileira (em particular, a produzida pela Globo) é exatamente o investimento em todos os gêneros de ficção como matéria-prima para a argamassa de nossa novela, minissérie ou série. Desse modo, a moderna telenovela brasileira – catalisadora de expressões literárias e teatrais – segue em seu desenvolvimento artístico e social de maneira autônoma, como produto da estética do contemporâneo audiovisual e, a despeito de nossa individualidade, nos faz sentir parte de um todo. Afinal, Literatura, Teatro e Telenovela representam um mesmo registro que busca, de um modo ou de outro, iluminar os intrincados labirintos do comportamento humano“.

Ao querido jornalista Valmir Moratelli, colunista da revista VEJA, Mauro declarou:

“É fundamental para a indústria do entretenimento os eventos promovidos pela ABL. Reveem conceitos, estéticas e apresentam novos caminhos, novas diretrizes e possibilidades de produção. A literatura foi a base da televisão brasileira, desde a sua inauguração, em diversos momentos da história da Comunicação. Entre eles, um escudo criativo contra a censura federal. Mas lamento a perda da sistematização da produção literária na TV, que teve seu auge com incentivo do governo, tanto na Globo quanto na TV Cultura”.

O Bem- Amado: clássico de Dias Gomes adaptado por Mauro Alencar para a série Grandes Novelas.

Para conferir a palestra de Mauro Alencar, terça que vem no Ciclo Literatura & Cia da ABL, faça sua inscrição pelo link https://www.even3.com.br/literatura-e-televisao/

SERVIÇO:

Palestra com MAURO ALENCAR

Tema: Adaptação literária para a teledramaturgia.

Onde: Teatro Raimundo Magalhães Jr.

Valmir Moratelli traça painel eloquente e revela pluralidades masculinas do envelhecer

Livro de Moratelli é fruto de sua tese de doutoramento, defendida com brilhantismo na PUC-Rio.

Mestre em Teledramaturgia e profundo conhecer dos modos de criar a narrativa de ficção televisiva, o jornalista carioca Valmir Moratelli (também poeta, cronista, documentarista, contista e colunista da revista VEJA) é um vocacionado para as múltiplas expressões do comunicar. Em todas, se sai com maestria.

Autor de um dos mais importantes livros sobre a longeva história da Teledramaturgia Brasileira – “O que as telenovelas exibem enquanto o mundo se transforma” (editora Autografia, 2019), um aprimoramento de sua dissertação de mestrado, Valmir concluiu sua tese de doutorado em Comunicação na PUC-Rio em dezembro de 2022. Intrépido, determinado, competente, ousado e aguerrido, nem mesmo os sombrios anos de pandemia o fizeram diminuir o ritmo de produção: em pleno hiato do covid-19, ele lançou o belo documentário “30 Dias -um carnaval entre a alegria e a desilusão” (já comentado aqui no blog), filmou e lançou “Prateados – a vida em tempos de madureza” (2021, GloboPlay) e engatou mais um documentário, também na seara do samba: “Rosa – a narradora de outros Brasis”.

O filme traz a carnavalesca Rosa Magalhães (filha do saudoso escritor cearense, Raimundo Magalhães Jr., imortal da ABL) como protagonista e com ele MORATELLI venceu o Festival de Vassouras na categoria Melhor Documentário. Também assina “Corpo São” (2022, Fashion TV), é professor de Escrita Criativa na ESPM, redige a coluna mais atualizada sobre celebridades e novidades do mundo do entretenimento, a GENTE, cuja repercussão é tão intensa que ele ganhou espaço televisivo na edição da VEJA para atuar como mediador de debates e entrevistas. Haja fôlego !

Moratelli vai da coluna de celebs ao filme premiado com pesquisa pujante sobre etarismo masculino.

Pois no meio desse alvoroço todo, Valmir Moratelli não despregou os olhos das notícias nem os dedos do teclado – nem mesmo em meio a tanta aflição pela pandemia e residindo numa cidade tão conturbada como a capital carioca -,, tampouco deu férias a corpo e mente: conseguiu a bravura de antecipar sua defesa de tese e o fez com brilhantismo. Falo porque estava lá, testemunhei a eloquência do doutorando e uma banca a demorar-se em fartos e sinceros elogios.

Rosane Svartman, autora do sucesso “Vai na fé” (TV Globo 2023), e Valmir Moratelli no lançamento na Travessa, em Ipanema. Ela é autora do prefácio da obra, lançamento da editora Matrix.

Um pesquisador/profissional/escritor/produtor como MORATELLI é admirável raridade, digno de calorosos aplausos e funciona como oxigênio nas lides acadêmicas. Podemos até dizer que a melhor tradução disso é Inveja Positiva !

Pois bem, a tese defendida por Valmir Moratelli – de temática instigante e necessária -, tem como esteio a trajetória de dois dos mais importantes e longevos atores do país: Antonio Pitanga e Antonio Fagundes. Além das muitas conversas e entrevistas com os dois mestres do ofício de Interpretar, Moratelli ainda fez um curta-metragem com eles, o qual foi exibido no dia de sua marcante defesa de tese.

Os dois atores falam abertamente sobre suas experiências, a relação com a passagem do tempo e de como percebem e convivem com traços etários, produtores de marcas inescapáveis que atingem o escopo profissional. É o envelhecimento sob a capa da masculinidade hegemônica o cerne da pesquisa. Ao defender a pluralidade de “velhices” em diferentes sociedades, o autor se vale de fontes textuais e imagéticas (pinturas, fotografias, esculturas, registros arqueológicos e produções televisivas) para analisar os liames urdidores de sentidos, emoções e poder. “Entender a criação dos conceitos associados ao envelhecimento é entender melhor a faixa etária que tende a ser majoritária no mundo em poucos anos”, assinala Moratelli.

Moratelli entre Tonico Pereira e Tatiana Siciliano na noite lotada do concorrido lançamento.

Moratelli conta: “O livro é uma adaptação da tese, em que pesquiso o envelhecimento masculino e suas representações, tanto no audiovisual quanto nas artes em geral. Faço um apanhado geral de como as representações das figuras masculinas são alteradas ao longo da História por diferentes sociedades”. Através de diversos exemplos, a pesquisa acaba por desvelar o quanto a representação do homem idoso sempre foi pautada por definições mutáveis, influenciadas por fatores culturais e sociais.

A obra discute também como a estética da juventude se sobrepõe à diversidade de experiências dos mais velhos, especialmente no meio audiovisual , define Moratelli.

É assim que se perpetua a representação do idoso – o indivíduo que já não pode trabalhar, que já não pode namorar, que já não pode fazer sexo ou redescobrir sua sexualidade, que não pode tomar decisões sozinho, que não deve dar opinião em assuntos determinantes para um grupo, entre outros. A modernidade prega uma vida social na qual, como se explorou ao final do primeiro capítulo, o descarte é necessário. Jovem e velho não coexistem no mesmo espaço, não dialogam em graus semelhantes de hierarquia e, por fim, não contribuem para viver e construir uma sociedade melhor para ambos. O velho já não é dessa sociedade.

Antonio Pitanga e Valmir Moratelli: entrevistado e autor celebram lançamento

Jornalista Edney Silvestre também foi levar seu abraço e parabenizar o amigo Valmir Moratelli.

A Invenção da Velhice Masculina é assim um livro abridor de caminhos na investigação de tema latejante no cotidiano de um país que envelhece rapidamente e insiste em viver mergulhado em preconceitos de toda sorte – sobretudo, como é sabido, contra a comunidade negra, mulheres, indígenas, idosos, pobres e periféricos. Além disso, presta importante serviço à percepção de como o audiovisual mostra a passagem de tempo no homem, ensejando a desnaturalização de dogmas, o questionamento de olhares preconceituosos e narrativas grotescas e simplificadoras, iluminando – com sensibilidade, argumentação vigorosa e argúcia – dialogias sobre o envelhecer saudável e respeitoso, cuja reflexão deveria servir de mote para quem deseja continuar vendo diariamente o dia e a noite contarem suas histórias.

Livro: A invenção da velhice masculina
Autoria:
 Valmir Moratelli
Editora:
 Matrix Editora
ISBN: 
978-65-5616-366-6
Páginas:
 224
Preço: 
R$ 53,00
Onde encontrar: Matrix Editora e Amazon

Euclides da Cunha redivivo no teatro em atuação primorosa de Amaury Lorenzo

Aurora Miranda Leão

Amaury Lorenzo tem atuação impressionadora em espetáculo “A Luta”, baseado em Euclides da Cunha.

Domingo, 12 novembro 2023. Vou ao Teatro Paschoal Carlos Magno, em Juiz de Fora – belo espaço para acolher as Artes Cênicas -, e deparo-me com um ator mineiro excepcional. Por acaso, atualmente ele também está na telinha: é o Ramiro da novela “Terra e paixão”.

Qual um rapsodo da Grécia Antiga, cantador que saía de cidade em cidade recitando poemas épicos ou fazendo cantorias (e assim eternizavam as epopeias da Ilíada e da Odisseia de Homero antes de serem escritas), a concepção cênica do monólogo “A Luta” coloca Amaury Lorenzo como grande contador de histórias, narrando a terceira parte de “Os Sertões”, cujo foco é a guerra de Canudos. No palco, ele é sertanejo, jagunço, militar, soldado, coronel, penitente, mulher, criança, forte, frágil, fanático, crédulo, ensandecido.

Amaury Lorenzo é uma espécie de “Rapsodo” narrando momento triste e cruel da vida brasileira com desenvoltura e enorme competência.

Sendo muitos com bastante acuidade e refinamento estético, Amaury Lorenzo é o protagonista do espetáculo “A Luta”, pelo qual deveria já vários prêmios ter ganho. Se acaso esses – incompreensivelmente -, ainda não chegaram, o ator por certo deixa Juiz de Fora esta madrugada com a bagagem excedendo em Aplausos.

Fui ao Teatro e fiquei estarrecida: leitora incansável de Euclides da Cunha (autor da “Bíblia da nossa nacionalidade”), o que vi em cena tem o impacto de uma visão impressionadora, que avaliza com galhardia a magnitude do monumental livro euclidiano.  

Ousado, aguerrido, visceral, Amaury Lorenzo me fez conectar imediatamente, não só com a literatura primorosa do escritor que tirou o sertão de seus 300 anos de solidão, como ao cerne do sistema stanislavskiano de teatro. Porque, a cada quadro da saga que compõe “A luta” no tablado, Lorenzo convoca uma dialogia providencial com o imortal Constantin Stanislavski, inspirador da frase que me acorreu, sorrateira: “Você é capaz de interpretar convencendo?” (similar à pergunta que mobilizou a atriz/encenadora Maria Knébel no desenvolvimento de seu aprendizado com o notável mestre russo da Dramaturgia).

E a resposta não tardava a chegar:  “Muito mais que isso, sou capaz de atuar encantando”.

Plateia lotou o Theatro Paschoal Carlos Magno para ver Amaury Lorenzo em cena. (Foto: Vitor Almeida).

Convincente, intenso, minimalista, eloquente e profundamente arrebatador, Amaury Lorenzo tem a fortaleza do homem do sertão que representa e a adorável “insanidade” de incorporar o universo complexo, denso, atemporal e controverso registrado por Euclides da Cunha em sua obra-prima “Os Sertões”, que agora em dezembro completa 121 anos.

A dramaturgia de Ivan Jaf tem a capacidade de condensar texto tão longo, com aprumo, perfazendo pouco mais de uma hora, numa encenação que enriquece o potencial dramático. A diretora Rose Abdallah escolhe abrir a cena com o ator já no palco, sob foco de luz azul e nuvens de fumaça branca (artifício comum e simples que embeleza a cena e prospecta sentidos), criando uma atmosfera que oscila entre o etéreo e a sensação de poeira subindo do chão de terra batida, própria do sertão daquele final de século XIX. Enquanto o público vai chegando e escolhendo seus assentos, o ator fica no palco alguns minutos e, aos poucos, as luzes vão caindo em resistência, ele começa a movimentar-se até que a sonoridade de rabequeiros e repentistas começa a nos conduzir para dentro do sertão nordestino. Aqui acolá, ouvem-se barulhos de chocalho e aboio, adensando a definição da ambiência sertaneja do Nordeste que Euclides viu e registrou para a eternidade.

Dentre tantos acertos da montagem de “A Luta”, como as já citadas e também a requintada seleção de frases literais do texto original, destacamos uma cena emblemática, reveladora do sublime entendimento do cerne da narrativa euclidiana: é o momento no qual Amaury Lorenzo assume a personagem de uma mãe desesperada em meio à guerra, a correr pra lá e pra cá com o menino nos braços, tentando escapar das baionetas e do alvoroço mavórcio, visando a todo custo salvar o rebento da estupidez da guerra. Lorenzo não veste vestido, não faz voz feminina nem carrega bebê no colo mas a criança, vítima da torpeza dos incautos defensores da nascente República, está em seus braços através da sensibilidade que o ator aguça e da empatia que provoca no espectador.

Um momento que semelha uma epifania e sublinha o que Euclides da Cunha definiu como maior símbolo da robustez dos sertanejos em Canudos: a resistência feminina e seu amor imperturbável pelos filhos. Quem conhece o livro e apreendeu esse dado de suma relevância cravado em “Os Sertões”, sente-se de alma lavada e coração abastecido pelo toque indubitável de reconhecimento da coragem feminina, assente como fonte de vida e paladina daqueles que carrega no ventre.

Revelando completo domínio de seu instrumental cênico – corpo, voz, gestos, respiração, expressões, dicção, ritmo, entonação, volume e timbres vários -, Amaury Lorenzo também insere intenção, distanciamento crítico e emoção na delicada construção dramática dos tantos personagens que cria, revelador de subtexto organicamente trabalhado, apenas com uma roupa – sem maquiagem, cenário ou troca de figurino – e soberana aptidão para o palco, iluminado por uma luz belíssima, emoldurando uma fumaça cênica a criar nuvens de poeira no evocar o sertão, onde o cearense Conselheiro se fez símbolo, Canudos se consagrou metáfora da Favela do século XXI, e o nordestino se afirma, diuturnamente, “a rocha viva da nossa nacionalidade”.

De onde quer que esteja o saudoso Euclides da Cunha, por certo a energia emanada da interpretação colossal do ator Amaury Lorenzo alcança de algum modo o escritor fluminense e nosso imaginário intui o revigor do encantamento de Euclides com o território sertanejo. Interpretação essa capaz de ratificar a pujança da pena prodigiosa do engenheiro/militar/poeta, bem como de nele recrudescer a compreensão profunda, extensa e secular dos danos causados ao sertão e a seus habitantes, vitimados pela invisibilidade malsã a eles concedida. Sertão pelo qual sofreu e para o qual criou versos afetuosos, com entranhado sentimento, responsável por fazer de sua narrativa a inestimável “Bíblia da nossa nacionalidade”.

Amaury Lorenzo em cena. Todas as fotos são de Vitor Almeida.

Um aplauso comovido e caloroso para Amaury Lorenzo, que avivou nosso sentimento de profundo respeito e Admiração por Euclides da Cunha, e os sinceros Parabéns ao escritor/dramaturgo Ivan Jaf e à diretora Rose Abdallah pela argúcia de colocar Euclides da Cunha no palco, em forma de monólogo, ousado e magnânimo.

Torcemos para que a peça ganhe outros palcos e novas cidades por todo o decorrer de 2024, chegando, especialmente, aos palcos da Bahia e do Ceará, dos quais há tanto significado embebido nas páginas de “Os sertões”.

Aurora Miranda Leão parabeniza Amaury Lorenzo no Teatro Paschoal Carlos Magno de Juiz de Fora.

Quando “A luta” ancorar em sua cidade, corra ao teatro para conferir a atuação notável de Amaury Lorenzo.

Vera Holtz é “Tia Virgínia” em filme de Fábio Meira que estreia esta noite em Fortaleza

O longa “Tia Virgínia”, protagonizado por Vera Holtz, Arlete Salles e Louise Cardoso, e dirigido por Fabio Meira, tem pré-estreia esta sexta no histórico Cineteatro São Luiz, em Fortaleza,  com a presença de Vera e do diretor Fabio Meira. O filme teve sessão única na 47ª Mostra de Cinema de São Paulo, pré-estreia lotada esta semana em cinema do Leblon, no Rio, e também terá pré-estreias em Salvador, Recife, Brasília, Curitiba, Porto Alegre.

Com estreia no dia 9 de novembro, o filme levou os KIKITOS de Melhor Filme pelo Júri da Crítica, Melhor Atriz para Vera Holtz, Melhor Roteiro para Fabio Meira, Menção Honrosa do Júri para a atriz Vera Valdez, Melhor Direção de Arte para Ana Mara Abreu e Melhor Desenho de Som para Ruben Valdés na mostra competitiva de longas brasileiros da 51a edição do Festival de Gramado,realizado em agosto na serra gaúcha.  

Vera Holtz vive a protagonista, uma senhora que nunca casou nem teve filhos. Convencida pelas irmãs Vanda e Valquíria (Arlete Salles e Louise Cardoso), Virgínia mudou-se de cidade para cuidar da mãe idosa. A direção e o roteiro são do premiado Fabio Meira (“As Duas Irenes”), com produção da Roseira Filmes e da Kinossaurus (produtora de Ruy Guerra e de Janaina Diniz) e distribuição da Elo Studios. No elenco também estão Antônio Pitanga, Vera Valdez, Amanda Lyra, Daniela Fontan e Iuri Saraiva.  

“‘Tia Virgínia’ descortina o lugar delicado e invisibilizado de tantas mulheres que tiveram suas vidas alteradas por uma ‘sentença’, de não terem se casado ou sido mães”, declara Fabio Meira. “Costumo dizer que ‘As duas Irenes’ nasceu de histórias que escutei da minha família; já ‘Tia Virgínia’ surge de histórias que vi de muito perto, sobre a relação da minha tia solteira, que cuidou dos meus avós no fim da vida, com minha mãe e as outras irmãs. É um filme sobre irmãs na maturidade, sobre afetos e rancores que não se transformam com o tempo. Precisamos falar sobre família e sobre essa geração de mulheres que atravessou diferentes faces da sociedade e tem se reinventado constantemente. As personagens foram construídas a partir das minhas próprias tias, mas também de inspirações de personagens clássicas do teatro e do cinema”, complementa o diretor. 

Tudo acontece narrativamente num único dia, quando a família se encontra para celebrar o Natal após a morte do patriarca. “O filme fala da ruptura, da mudança do paradigma constrangedor de uma sociedade que não sabe lidar com o velho. Eu acho que a Tia Virgínia inventa um caminho, vai em busca de um caminho dela para a velhice. Essa ruptura a leva a sair deste lugar melancólico e percorrer um novo caminho, reinventar ou inventar, como a própria sociedade que está inventando a juventude, como já inventou a velhice. Esse tema de família e de pertencimento me agrada bastante. O filme traz um acúmulo de histórias, de vivências dentro do núcleo familiar. A Virgínia, minha personagem, está bem estressada, chateada e arrependida de ter deixado de lado a vida que ela acha que poderia ter vivido. Com a chegada das irmãs, ela dá uma descompensada”, conta Vera Holtz.

FILME TIA VIRGÍNIA – Pré-estreia em Fortaleza

HOJE – Sexta, 27 de outubro, 19h, no Cineteatro São Luiz 

Pré-venda de ingressos 

Presenças confirmadas Vera Holtz e o diretor Fabio Meira 

Ficha Técnica: 

Roteiro/Direção: Fabio Meira 

Produção: Roseira Filmes e Kinossaurus Filmes 

Produzido por:  Janaina Diniz Guerra, Fabio Meira 

Produtor Executivo: Camilo Cavalcanti 

Produtor Associado: Thiago Macêdo Correia 

Direção de Fotografia:  Leonardo Feliciano 

Direção de Arte: Ana Mara Abreu 

Figurino:  Rô Nascimento 

Técnico de Som: Marcos Manna  

Montagem: Karen Akerman, Virgínia Flores 

Desenho de Som: Ruben Valdés 

Música Original: Cesar Camargo Mariano

Pré-estreia: Cine Metha Glauber Rocha- Salvador -BA 

Data: 28/10- Sábado às 19h 

Pré-venda de ingressos 

Presenças confirmadas do diretor Fabio Meira, Vera Holtz. 

Sessão seguida de debate 

Pré-estreia:  Fundação Joaquim Nabuco- Recife -PE 

Data: 29/10- Domingo- Sala Derby ou Porto  

Pré-venda de ingressos 

Presença Diretor Fabio Meira 

Pré-estreia: Cine Marquise- São Paulo -SP 

Data: 31/10- Terça-Feira  

Receptivo às 20h – Sessão 20:30h 

Pré-venda de ingressos 

Presenças confirmadas do diretor Fabio Meira e da atriz Vera Holtz. 

Pré-estreia:  Cine Brasilia-DF 

Data: 02/11- Quinta-Feira com venda de ingressos 

Ingressos populares R$ 10 Inteira/ R$ 5 meia 

Presenças confirmadas do diretor Fabio Meira e Iuri Saraiva 

Sessão seguida de debate 

Pré-estreia:  Cine Passeio- Curitiba – PR 

Data: 07/11- Terça-Feira

Presença confirmada de Vera Holtz  e do diretor Fabio Meira 

Com venda de ingressos 

Pré-estreia:  Cinemateca Paulo Amorim – Porto Alegre – RS 

Data: 08/11- Quarta-Feira  

Com vendas de ingressos 

 Presenças confirmadas Vera Holtz e o diretor Fabio Meira

A produtora Janaína Diniz Guerra, Vera Holtz e Fábio Meira: consagração em Gramado.

Seminário Luiz Filho de Jiu-Jítsu reúne quase 100 em Fortaleza e atesta pioneirismo do Mestre Faixa Coral

O mestre de Jiu-Jítsu Luiz Filho (Faixa Coral 8o Vermelha e Branca), praticante do esporte desde a adolescência – que manteve academia em Fortaleza por mais de 10 anos e reside há duas décadas nos Estados Unidos -, esteve na capital cearense para ministrar seminários da prática de defesa pessoal. O número de inscrições e a presença maciça de ex-alunos certifica que Luiz Filho fez adeptos fiéis entre seus conterrâneos e plantou uma semente frondosa, a qual hoje repercute em novas gerações de aprendizes e atesta sua pujança em diversos seguidores que já são Faixa Preta.

Nascido na India, o Jiu-Jítsu é uma luta marcial na qual se tenta imobilizar o oponente com golpes de destreza aplicados a partes sensíveis do corpo. Formado em Educação Física e Nutrição, Luiz Filho tem um vasto currículo na prática e no ensino do esporte-arte, colecionando troféus, faixas e muitos adeptos da sua forma singular e instigante de ministrar técnicas e estratégias de defesa pessoal, pregando a não violência e a inclusão de crianças, mulheres, indígenas, pretos e pretas, a comunidade LGBTQIAPN+ e pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais.

O Jiu-Jítsu é prática originada três mil anos antes de Cristo, provavelmente na Índia, onde era praticado na esfera do Budismo. Os monges budistas precisavam se defender contra saqueadores durante suas viagens. Como a filosofia proibia o uso de armas, eles criaram um modo de se proteger de ataques inimigos com técnicas baseadas na força corporal e na interdependência corpo-mente-espírito. Essa modalidade nova de defesa pessoal evoluiu ao longo do tempo e sagrou-se como jiu-jítsu, que significa “arte suave” ou “técnica da brandura”, unindo as palavras ju (suavidade, gentileza) e jutsu, que significa arte, técnica.

 Trata-se de arte marcial intrincada e desafiadora porque exige engenho, agilidade, rapidez, movimentos complexos, sendo proibidos o recurso a socos e chutes. O objetivo é conquistar posições de controle sob o adversário até a finalização, ou seja, a vitória sobre o oponente ou a desistência desse por reconhecer a superioridade do outro.

 O Jiu-Jítsu usa a força e o peso do seu adversário contra ele mesmo, possibilitando a um lutador, mesmo de compleição física inferior à do oponente, conseguir vencer. Todo corpo é usado como instrumento de combate, utilizando sua energia e seu próprio corpo, por intermédio de projeções, imobilização, contusões, torções, pressões, alavancas, etc. Dependendo de qual tradição seja praticada, haverá maior ênfase em determinado gênero de golpes.

Os praticantes veem no Jiu-Jítsu não apenas um esporte ou prática de defesa pessoal, mas uma filosofia de vida, pois além de treinar o corpo, é necessário treinar a mente e cultivar a boa convivência, já que seu aprendizado é baseado em princípios. Um dos mais importantes desses é a humildade.

 Outro dos princípios básicos das diversas artes marciais é o respeito ao próximo. Assim, é comum que os aprendizes tratem seu instrutor por “mestre”. Entretanto, no Jiu-Jítsu, o título de Mestre somente pode ser atribuído a alguém que já alcançou o estágio de um Faixa Coral – preta e vermelha. Essa graduação é referente ao 7º grau da faixa preta. Destarte, qualquer praticante cujo nível esteja abaixo da Faixa Coral não é considerado Mestre. Por sua vez, Professor e Sensei significam níveis iguais, havendo a diferenciação quanto à origem, pois sensei é nomenclatura de origem japonesa, utilizada mais por quem prática artes orientais, como o karatê e o judô.

SENSEI quer dizer “aquele que nasceu antes”. O termo é usado para referir-se a quem tem reconhecida experiência e méritos na ofício da milenar arte marcial, simbolizando respeito e reconhecimento.

Dias intensos de aprendizado de técnicas de Jiu-Jítsu com o mestre Faixa Coral Luiz Filho em Fortaleza.

Ele pratica Jiu-Jíitsu desde a adolescência. Nascido em Fortaleza, filho do jornalista, professor, enxadrista e crítico de cinema LG de Miranda Leão e da pedagoga Marlene Miranda Leão, o Faixa Coral (8o Vermelha e Branca) LUIZ FILHO reside nos Estados Unidos há décadas. Porém, esse tempo de distância da terra natal e dos tatames em solo brasileiro tornou-se invisível assim que o mestre desembarcou no Pinto Martins: dezenas de amigos e ex-alunos o esperavam no saguão do aeroporto e os abraços estenderam-se até a praia do Futuro, onde não faltaram peixe, caranguejo e muita gelada para celebrar o tão aguardado reencontro.

Quem viu Luiz Filho durante sua estada na capital cearense semana passada custa a acreditar que foram mais de duas décadas distante da Terra da Luz, do baião-de-dois e do queijo coalho. É como se o Mestre nunca tivesse deixado o Ceará. O Faixa Coral 8o Vermelha e Branca de Jiu-Jítsu mantém intacta sua conexão com o enorme grupo de ex-alunos que ajudou a formar, demonstrando que, além de bons aprendizes, o professor cultivou fiéis signatários, os quais fizeram questão de levar o amigo para conhecer novos restaurantes de Fortaleza, rever a orla da beira-mar, visitar atrações turísticas e experimentar iguarias que inexistem no norte da América.

Com o querido mestre Luiz Filho:reencontro aguardado há mais de duas décadas…

Os espaços onde aconteceram as aulas ficaram pequenos para tantos novos e antigos seguidores, que se reuniram em torno de Luiz Filho. Marcos Pantoja, Adelson, Sergio, Rogério, Luciano Mesquita, chamaram outros e mais outras, e o resultado foram 10 dias de muito aprendizado, revisão de técnicas, assimilação de novas estratégias, reflexão sobre o alcance da Arte Marcial e troca de ideias sobre vida saudável, alimentação, inclusão, antirracismo, cultura da não-violência e respeito à diversidade, como a enfatizar que o verdadeiro Mestre é aquele que cria laços afetivos e é capaz de ensinar aprendendo, numa predisposição que faz lembrar Paulo Freire (1921-1997), o educador que pregava a coexistência do ensino-aprendizagem numa relação de via dupla entre professores e  estudantes.

“Por maior que seja a experiência do professor e seus anos dedicados ao ensino, o pedagogo é um pesquisador que trabalha em conjunto com o estudante, respeita seus achados como autênticos e dialoga com seus próprios saberes”.  Essa assertiva de Paulo Freire traduz com muita exatidão o que vimos acontecer nas aulas ministradas por LUIZ FILHO em Fortaleza, não faltando alunos/amigos lamentando o pouco tempo de permanência do mestre no Brasil. A boca pequena, todos queriam saber quando serão os próximos Seminários Luiz Filho de Jiu-Jitsu em Fortaleza, quando poderão contar com novas aulas e pedidos para que o Faixa Coral retorne muito em breve.

No centro da foto, o Mestre Luiz Filho (Faixa Coral 8o Vermelha e Branca) cercado por antigos e novos alunos…

Para deixar um registro simbólico do apreço dos alunos e confirmar a existência de um núcleo de atletas que praticam o método Luiz Filho, criado no Ceará ainda nos anos de 1980, o grupo comandado por Vitim entregou ao mestre a Faixa Coral de número 8 (vermelha e branca), momento emocionante dessa temporada que deixou ótimas recordações, gostinho de saudade e um Até Logo cheio de afeto.

Nos Estados Unidos, o mestre Luiz Filho(Faixa Coral 8o Vermelha e Branca) ensina Jiu-Jítsu na academia Martial Arts Training Center, onde leciona diariamente também para crianças.

AMOR PERFEITO desvela vilanias do sistema patriarcal e traça painel da emancipação feminina

         Parece ficção mas infelizmente não é: ainda há muitos a pensar que o caminho percorrido pelas mulheres para chegar ao estágio atual não foi tão difícil assim nem demorou muito. Para quem ainda não se convenceu ou desconhece o quanto de estrago o sistema patriarcal causou (e ainda causa) à vida em sociedade, a novela “Amor perfeito” é bom exemplo de obra esclarecedora.

          Embora seja atração das 18h na TV Globo – horário visto por muitos como pródigo em temáticas “ingênuas” -, não há mais espaço na narrativa ficcional televisiva (ainda bem e faz é tempo) que escape à discussão de pautas espinhosas e urgentes que ancoram a formação da sociedade brasileira. As exceções dessa regra, infelizmente, depõem contra o avanço que a Teledramaturgia Brasileira já alcançou ao longo de suas mais de sete décadas.

Livremente inspirada na conhecida obra “Marcelino, pão e vinho”, do escritor espanhol José María Sánchez Silva, a novela estreou em 20 de março e é escrita a seis mãos por Duca Rachid, Júlio Fischer e Elisio Lopes Jr. O enredo apresenta traçado narrativo inteligente, no qual quatro temas principais avultam com delicada potência: a importância da educação, o combate à ditadura, crítica à política de “indicações”, e denúncia do machismo, e é isso que serve de esteio para uma defesa contumaz da mulher.

         Ambientada na fictícia Águas de São Jacinto, cidade situada na fronteira Minas-Bahia, tudo se passa entre as décadas de 1930 e 1940, auge da ditadura Vargas.  O centro da história é a figura de Marcelino, interpretado pelo lindo Levi Asaf, garoto separado da mãe quando bebê e acolhido por um grupo de religiosos da Irmandade de São Jacinto dos Clérigos, interpretados por Tonico Pereira, Tony Tornado (lindo ver o ator tão bem em seus 93 anos), Babu Santana (Frei Severo marcando sua melhor atuação na telinha), Allan Souza Lima, Chico Pelutio, Bernardo Berro e Antônio Pitanga (o sábio Frei Vitório). Aliás, a novela é pródiga em apresentar um amplo espectro de artistas pretos e pretas, alguns dos quais estreando, como o protagonista Levi Asaf, Diego Almeida (o médico Orlando) e o mestre Ivamar (seu Popó).                    

Com belíssimo figurino, caracterização e reconstituição de época admiráveis, condizente trilha sonora e inspirada direção de arte, o roteiro traça um painel histórico e social do país através de competente percurso diegético, no qual destacam-se o encantamento provocado pela abertura da primeira sala de cinema (gerando cenas poéticas), a inauguração do primeiro chafariz na pracinha da bucólica cidade do interior mineiro, a realização de quermesse beneficente, o paulatino crescimento da cidade com São Jacinto servindo de cenário para a realização de um filme, a inauguração de um restaurante temático, e um dia de desfile do Congado Mineiro2 (reverenciando a majestosa tradição popular), além de afirmar constantemente a importância da Educação e enfatizar os difíceis e sinuosos caminhos percorridos pela mulher ao longo das décadas.

           Maternidade, violência simbólica, machismo, racismo, assédio moral e profissional, corrupção e sororidade[1] são questões evidenciadas na trama, na qual avulta um subtexto inteligente e vigoroso de defesa da emancipação feminina. Esse foi sendo construído ao longo da história com sensibilidade, capricho e foco em pontos cruciais, conforme evidenciou-se em sequências das personagens Verônica – feita com riqueza de detalhes por Ana Cecília Costa – e Cândida (Zezé Polessa em atuação primorosa). Ambas vivem mulheres oprimidas, que incorporam uma série de dores e tristezas impostas pelo deletério padrão machista e, em diferentes temporalidades, começam a despertar para a injusta condição a qual foram destinadas, enquanto uma audaz e mobilizadora inconformidade com o quadro vivido por cada uma começa a ganhar contornos de desarmonia.

          Para quem acredita que novela é alienante e que tudo que o gênero apresenta é bobagem e todo mundo já sabe, vale a pena louvar uma novela como “Amor perfeito” e ratificar que obras assim – com a relevância temática desta e a qualidade de sua diegese – devem ser vistas para ampliar seu raio de possibilidades, abrindo espaço para o entendimento da complexidade e extensão do machismo e, quem sabe, para a elaboração de projetos de pesquisa que abordem assuntos análogos, cujas discussões são tão prementes no cotidiano nacional. 

Por outro lado, quem ainda repete que violência contra a mulher é mimimi, o discurso de “Amor perfeito” presta contribuição pertinente para o esclarecimento do quão pedregoso foi o trajeto de afirmação da mulher até chegar a atualidade, a qual ainda muito tem por melhorar, porém o passado precisa ser sempre evocado para que não seja esquecido e possa servir de baliza indicadora de avanços, atrasos e desvios. Nesse sentido, a teledramaturgia desempenha papel assaz importante, ainda mais porque chega gratuitamente aos quatro cantos do país.   

Um Viva enorme a todos quanto tornam possível a realização de “Amor perfeito”, que está entrando em sua reta final e vai deixar saudades !


[2] Marcada pelo sincretismo entre o catolicismo e as religiões de matriz africana, a CONGADA é uma das festas mais populares de Minas Gerais. A manifestação da cultura popular celebra uma homenagem a Chico Rei, figura lendária da tradição oral mineira. Chico Rei (interpretado na congada ficcional por Antônio Pitanga) teria sido um monarca africano, do Congo, trazido escravizado para o Brasil. Dessa forma, a congada surge como uma celebração da força e resistência do povo negro.