Elas começaram vinculadas ao teatro, alcançaram projeção nacional impressionante e hoje são exportadas e desenvolvidas de acordo com as oscilações da audiência. As novelas de televisão, uma das maiores especialidades brasileiras, despontam como o foco do evento A História da Telenovela, série de nove encontros mensais que começa hoje, às 18h30, no Teatro 1 do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com entrada franca.
Na abertura, Regina Duarte conversa com o público sobre a sua trajetória na TV, desde a primeira novela (A Deusa Vencida, de Ivani Ribeiro, na extinta TV Excelsior), sempre como protagonista.
Também vão ajudar a contar a história dos 60 anos de TV no Brasil, Nathalia Timberg, Eva Wilma, Laura Cardoso, Ana Rosa, Nicette Bruno, Paulo Goulart e Silvio de Abreu.
Idealizador do evento, o produtor Hermes Frederico evoca as novelas mais marcantes ao longo das décadas, como 25499 Ocupado, O Direito de Nascer, Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Roque Santeiro e Vale Tudo, tanto pelo pioneirismo quanto pela consolidação da audiência. Hermes tinha 5 anos quando assistiu a 25499 Ocupado, primeira novela diária da TV brasileira, com Tarcísio Meira e Glória Menezes.
– Na minha infância, na década de 60, os capítulos duravam meia hora, e pude assistir a O direito de nascer, assim como a várias novelas da Excelsior e da Tupi, além dos primeiros sucessos da Globo, como Um rosto de mulher e O sheik de Agadir – recorda.
Origem no teleteatro
A televisão começou diretamente vinculada ao teatro. Basta lembrar os teleteatros, que proporcionavam ao telespectador contato com peças inteiras, gravadas ao vivo.
– Todas as emissoras tinham os seus teleteatros, com as peças ao vivo e depois em videotape, com boa audiência. As novelas foram ocupando esse espaço – analisa Hermes. – Nos anos 60 e 70, a televisão reuniu nas novelas grandes autores e atores de teatro.
Sônia Braga dança com Paulete na saudosa Dancing Days de Gilberto Braga, uma das novelas de maior audiência da TV …
Pioneira na televisão, Eva Wilma firmou parcerias artísticas importantes com os maridos, John Herbert (Alô, Alô Doçura) e Carlos Zara, e com autores como Cassiano Gabus Mendes.
Eva Wilma é uma das atrizes que vão abrilhantar o evento do CCBB
– Cassiano foi meu mestre na televisão. Tão importante quanto José Renato e Antunes Filho foram para mim no teatro – confirma a atriz.
O grande salto qualitativo de Eva Wilma veio com a oportunidade de interpretar as gêmeas Ruth e Rachel em Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, outra autora determinante na sua carreira:
– Fiz heroína e vilã, ao mesmo tempo, numa época em que a televisão era mais artesanal. Passei por um período intenso de ensaios. E me dei conta de que os vilões são interessantes porque repletos de conflitos. Procuro mostrar o lado humano deles, com humor e uma alegria suicida.
Regina Duarte e a inesquecível Dina Sfat em Selva de Pedra, clássico de Janete Clair
A composição da megera de A Indomada, de Aguinaldo Silva, contrastou com a sobriedade da personagem do seriado Mulher. A atriz traz à tona uma série de trabalhos marcantes, como O meu pé de laranja lima, adaptação de Ivani Ribeiro para o romance de José Mauro de Vasconcelos.
– Propunha marcações para a personagem. Lembro que antigamente a televisão não era simultânea – compara a atriz. – Então, a novela tinha terminado em São Paulo, mas não em Minas Gerais. Fomos até lá fazer um grande capítulo ao vivo. Quando saí do avião, uma multidão gritava o nome da personagem.
Em A Viagem, a atriz entrou em contato com o mundo espiritual.
– Tivemos uma palestra interessantíssima com Chico Xavier, antes do início das gravações – lembra Eva.
Eva Wilma abordou ainda o período da ditadura militar em Roda de Fogo, de Lauro Cesar Muniz, através da torturada Maura.
– Foi uma oportunidade de falar sobre o que a nossa geração passou – sublinha a atriz, que se prepara agora para as gravações de Araguaia, próxima novela das 18h, de Walter Negrão.
Com história acumulada na televisão, Nicette Bruno fez teleteatro, passou por emissoras como a Tupi, a Rio e a Continental até desembarcar na Globo, no seriado Obrigado, Doutor.
Reginaldo Faria e Luís Gustavo na primeira versão de Ti Ti Ti, de 1985
– Antigamente, a TV era um bico para os atores. Até que o hábito de ver novelas começou a deslanchar – destaca Nicette, que pode ser vista atualmente no remake de Ti-Ti-Ti, de Maria Adelaide Amaral.
* Texto de Daniel Schenker, do JB